quarta-feira, 2 de abril de 2014

DORIVAL CAYMMI 100 ANOS # ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

 Amigos, em 30 de Abril próximo
DORIVAL CAYMMI
completa 100 ANOS DE NASCIMENTO.
Vamos homenageá-lo!
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EMBOLADA À CAYMMI

Caymmi que me perdoe,
mas cantar só a Marina
é um erro imperdoável,
é deixar todas as outras,
mulheres tanto que são,
numa secura asiática.

Não precisa ser Dom Juan,
pra visitar à surdina 
somente as escolhidas
ou Bandido da Luz Vermelha
e cobrar a peso de ouro
o orgasmo sorrateiro
das suas vagabas paulistas,
nem dar uma de Vinícius
e classificar de feias
todas que não "pegou",
ou fazer como Drummond,
para amar somente as sonsas
no escurinho dos cinemas.
Muito menos esnobar,
como fez Manuel Bandeira,
que se amarrou em Tereza
e nas horas mais soturnas
fazia visitas secretas
à Rosa de faces lívidas
e quando ela adormecia
seu sono de querubim,
Bandeira corcovinava,
lépido qual uma lebre,
pela Mem de Sá a fora, 
cruzava a Frei Caneca,
quebrava na Carmo Neto
e ia findar no Mangue,
onde ele se realizava
nos braços de Colombinas,
Leninhas, Brigites e tais
do seu mundinho privê.
Mas logo que se fartava,
fazia o caminho de volta
pra fastiar-se na Lapa,
quiçá nos braços de Irena
n'algum daqueles becos
que rondam a velha igreja
de Nossa Senhora do Carmo,
e, quando o dia raiava,
Bandeira se recolhia,
sem sorriso de Arminda
nem carinho de Isabel
e se punha a construir
sua nova canção do beco,
sem beijo nem lembrança
do frustrado amor de antonia.

Mas Caymmi que me perdoe,
cantar somente a Marina
é um erro imperdoável!
***
CAYMMÓPOLIS

Até bem pouco, eu
ouvi Caymmi dizer
" Vou pra Maracangalha,
eu vou", como ouvi
Manuel Bandeira confessar
"Vou-me embora pra Pasárgada".

Maracangalha, era pra mim,
algo assim como um tipo
de refúgio secreto
à Colônia Cecília
ou mesmo uma Shangri-lá,
coisas do imaginário anarquista
ou de cristão jesuíta
caçador da Terra Prometida,
ou quem sabe ainda
de algum consumidor de lsd.

Mas esse estado lisérgico
durou só até eu dar de cara
com a foto panorâmica
da Praça Dorival Caymmi
cheia de bancos, jardins,
arquitetura nyemaieriana
e usinas de açúcar.

Gelei, mas caí na real.
Maracangalha não é utopia
e, por incrível que pareça,
é uma cidade da Bahia.
***